Os Tupiniquins
Naquela zona, depois chamada Porto Seguro vivia uma tribo de índios – os Tupiniquins. Belos, simpáticos, afáveis, deixaram os marinheiros encantadíssimos! Pêro Vaz de Caminha descreveu-os muito bem: pardo de pele avermelhada, com feições bonitas cabelos negros muito lisos, que os homens usavam cortados por cimas das orelhas e as mulheres soltos pelos ombros. Andavam nus e não demonstravam vergonha, sendo tão elegantes, ninguém se sentiu chocado, a inocência do paraíso.
Alguns ostentavam pinturas no corpo, bonitas toucas feitas com pena de papagaio e colares de continhas miúdas. No lábio inferior atravessavam um osso branco que aparentemente não perturbava nenhuma função.
Falavam, comiam e bebiam sem que o osso fosse um estorvo.
Nada assustados com a presença de estranhos dispuseram-se a ir a bordo.
Pedro Álvares Cabral recebeu-os na nau e, embora não falassem a mesma língua procurou conhecê-los melhor, para isso foi mostrando animais e objetos. Primeiro um papagaio africano. Os índios pegaram-lhe e fizeram gestos para a terra, dando a entender que também tinham daquelas aves.
Em seguida os marujos trouxeram um carneiro. Eles não se importaram. Depois uma galinha, que os assustou.
O capitão ofereceu-lhes também comida: pão, peixe cozido, doces, vinhos. De tudo provaram e de tudo cuspiram, enjoados.
Pelo visto os hábitos alimentares daquele povo eram muito diferentes.
Talvez cansados de tanta experiência nova, deitaram-se os índios sobre um carpete e adormeceram confiantes como crianças. Esta atitude enterneceu o capitão.
Que gente pacifica serena. Mandou cobri-los para não arrefecerem e por baixo de cada cabeça foi colada uma almofadinha.
Que pena as relações entre diferentes povos que encontraram por esse mundo não terem continuado assim amigáveis.
Ao primeiro contato pensaram que eram extremamente pacíficos. Puro engano!
Entre as varias tribos havia lutas constantes pela posse do território e os homens orgulhavam-se das qualidades demonstradas, na guerra. Possuíam arcos, flechas, lanças em caso de necessidade chamavam as mulheres para combater.
As batalhas entre Índios eram espetaculares. Todos eram exímios na pontaria e enfeitavam a si próprios e as armas com pinturas e penas.
A vida cotidiana também obedecia a regras. As mulheres ocupavam-se com as atividades agrícolas e a coleta de frutos e plantas.
Colaboravam na pesca e a elas competia o transporte de animais abatidos.
Fabricavam farinha, preparavam os alimentos, faziam óleo de coco, fiavam algodão e teciam as redes.
Também produziam cestos e objetos de cerâmica, cuidavam dos animais domésticos. Competia-lhes cuidar dos filhos, depilar e pintar com tatuagens o corpo dos homens.
Quanto aos homens, derrubavam árvores e preparavam a terra para ser cultivadas, caçavam e pescavam com flechas e redes e tinham a seu cargo o fabrico de canoas e armas bem como a construção das ocas.
Acendiam o fogo e eventualmente tatuavam suas mulheres, não por obrigação mais como manifestação de carinho.
Os índios casavam quase sempre com elementos da mesma família, podiam ter varias esposas, em média três ou quatro. As crianças sobre tudo pertenciam aos pais.
Procuravam educá-las de modo a que respeitassem os adultos. As relações entre pessoas do mesmo sangue eram muito carinhosas. Alegres, brincalhões, os pequenos índios assobiavam como pássaros e aprendiam a cantar e a dançar ao som de instrumentos muito simples, geralmente cabaças com pedrinhas dentro.
A religião incluía deuses e demônios, a quem faziam oferendas para evitar desgraças como trovões e catástrofes ameaçadoras. Acreditavam na imortalidade da alma e no paraíso.
Os tupi-guarani tinham uma língua comum, com variações que não os impediam de se entenderem.
Antes da chegada dos portugueses, as tribos todas em conjunto somavam entre dois a três milhões de pessoas.
A armada de Cabral ficou ancorada na baía de um porto seguro durante dez dias. Os marinheiros tiveram oportunidade de lavar roupa, encher pipas de água, cortar lenhas e provar alimentos diferentes. Ao que parece adoraram palmitos.
Antes de partirem foi despachada a embarcação de Gaspar de Lemos para Portugal com uma grande carta escrita por Pêro Vaz de Caminha para dar a notícia.
A carta de Pêro Vaz de Caminha termina de forma muito pessoal. Depois de elogiar quanto viu naquilo que se supunham ser uma ilha e depois de garantir que valia muito a pena tomar conta da nova terra, depois de se desculpar por ter escrito demasiadas páginas, arremata pedindo ao rei que conceda perdão ao seu genro que se encontrava degradado na ilha de São Tomé.